sexta-feira, 24 de abril de 2009

Entendendo a crise financeira - Estudo de Caso

ENTENENDO A CRISE FINANCEIRA

Estudo de Caso – Adaptado de matérias publicadas na revista Exame e na Folha Online


O Histórico da Crise

A crise no mercado hipotecário dos EUA é uma decorrência da crise imobiliária pela qual passou o país, e deu origem ,por sua vez, a uma crise mais ampla, no mercado de crédito de modo geral. O principal segmento afetado, que deu origem ao atual estado de coisas, foi o de hipotecas chamadas de “subprime”, que embutem um risco maior de inadimplência.

O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada logo depois da crise das empresas “pontocom”, em 2001. Os juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano) vieram caindo para que a economia se recuperasse, e o setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos. A demanda por imóveis cresceu, devido às taxas baixas de juros nos financiamentos imobiliários e nas hipotecas. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed chegaram a cair para 1% ao ano.

Em 2005, o “boom” no mercado imobiliário já estava avançado; comprar uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom negócio, na expectativa de que a valorização dos imóveis fizesse da nova compra um investimento. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de usar o dinheiro do financiamento para quitar dívidas e, também, gastar (mais).

As empresas financeiras especializadas no mercado imobiliário,para aproveitar o bom momento do mercado, passaram a atender o segmento “subprime”. O cliente “subprime” é um cliente de renda muito baixa, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar renda. Esse empréstimo tem, assim, uma qualidade mais baixa – ou seja, cujo risco de não poder ser pago é maior, mais oferece uma taxa de retorno mais alta, a fim de compensar o risco.

Em busca de rendimentos maiores, gestores de fundos e bancos compram esses títulos “subprime” das instituições que fizeram o primeiro empréstimo e permitem que uma nova quantia em dinheiro seja emprestada, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Também interessado em lucrar, um segundo gestor pode comprar o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia de venda de títulos.

Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar por sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os “subprime”, o que termina por gerar uma crise de liquidez (retração de crédito).

Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair: os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram os compradores; com isso, a oferta começa superar a demanda e desde então o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis.

Com os juros altos o que se temia veio a acontecer: a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo, desaquecendo a maior economia do planeta - com menos liquidez (dinheiro disponível), menos se compra, menos as empresas lucram e menos as pessoas são contratadas.

No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que vão render juros para investidores na Europa e outras partes no mundo, por isso o pessimismo influencia os mercados globais.

Os Agentes Financiadores

Em setembro de 2007, o BNP Paribas Investment Pereners – divisão do banco francês BNP Paribas – congelou cerca de 2 bilões de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia, citando preocupações sobre o setor de crédito “subprime” nos EUA. Segundo o banco, os três fundos tiveram suas negociações suspensas por não ser possível avalia-los com precisão, devido ao mercado “subprime” americano.

Depois dessa medida, o mercado imobiliário passou a reagir em pânico e algumas das principais empresas de financiamento imobiliário passaram a sofrer os efeitos da retração; a American Home Mortgage (AHM), uma das 10 maiores empresas do setor de crédito imobiliário e hipotecas dos EUA, pediu concordata. Outra das principais empresas do setor, a Contrywide Financial, registrou prejuízos decorrentes da crise e foi comprada pelo Bank of América.

Bancos como Citigroup, UBS e Bear Stearns têm anunciado perdas bilionárias e prejuízos decorrentes da crise. Entre as vitimas mais recentes da crise estão as duas maiores empresas hipotecárias americanas, a Fannie Mãe e a Freddie Mac. Consideradas pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, “tão grandes e tão importantes em nosso sistema financeiro que a falência de qualquer uma delas provocaria uma enorme turbulência no sistema financeiro de nosso país e no restante do globo”, no dia 07 de setembro foi anunciada uma ajuda de até US$ 200 bilões.

As duas empresas citadas anteriormente possuem quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para habitação nos EUA; no segundo trimestre, registraram prejuízos de US$ 2,3 bilhões (Fannie Mãe) e de US$ 821 milhões (Freddie Mac).

Menos sorte teve o Lehman Brothers: o governo não disponibilizou ajuda como a que foi destinada às duas hipotecárias. O banco previu na semana passada um prejuízo de US$ 3,9 bilhões e chegou a anunciar uma reestruturação. Antes disso o banco já havia mantido conversa com o KDB (Banco de Desenvolvimento da Coréia do Sul, na sigla em inglês) em busca de vender uma parte sua, mas a negociação terminou sem acordo.

O Bank of América e o Barclays também recusaram, depois que ficou claro que o governo não iria dar suporte à compra do Lehman. Restou ao banco entregar a Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York um pedido de proteção sob o “Capitulo 11”, capitulo da legislação americana que regulamenta falências e concordatas.

As ações de Combate

Como medida emergencial para evitar uma desaceleração ainda maior da economia – o que faz crescer o medo que o EUA caiam em recessão, já que 70% do PIB americano é movido pelo consumo -, o presidente americano, George W. Bush, sancionou em fevereiro um pacote de estímulo que inclui o envio de cheques de restituição de impostos milhões de norte-americanos.

O pacote estipulou uma restituição de US$ 600 para cada contribuinte com renda anual de até US$ 75 mil e US$ 1.200 para casais com renda de US$ 150 mil, além de US$ 300 adicionais por filho. Quem não paga imposto de renda, mas recebe o teto de US$ 3 mil anuais, teve direito a cheques de US$ 300.

Esta semana o ex-presidente do Federal Reserve Bank - FED - o Banco Central americano - Alan Grispain declarou que errou ao acreditar que o mercado fosse capaz de resolver as suas crises e pediu desculpas ao mundo. Essa declaração deixa claro a tese do mercado auto-ajustável, onde a economia era entendida como linear, ou seja, quando um setor estava em “crise” os demais setores que estavam em “alta” regulavam o mercado, esta tese, chamada de liberalismo econômico, foi defendida por Adam Smith e por outros estudiosos da ciência econômica ao longo do tempo.

No período das guerras um economista chamado John Maynard Keynes, defendeu entre outras coisas a regulação dos mercados, mostrando que a economia tinha ciclos de crescimento e ciclos de crise, esse pensamento foi seguido por outros estudiosos da ciência econômica.

Nos últimos anos uma corrente de estudiosos da ciência econômica dentre eles o ex-presidente do Banco Central americano, defendem a desregulamentação do sistema financeiro pelo estado, ou seja os governos não deveriam intervir, ou intervir menos no sistema financeiro.

Questões

Com base nos conhecimentos da disciplina, nos noticiários jornalísticos e na leitura do texto, responda os seguintes questionamentos.

1. Qual o fato que desencadeou a crise?

2. No seu entendimento, como a crise se estendeu para outros setores?

3. Por que os governos costumam ajudar os seus sistemas financeiros?

4. Explique, por que o ex-presidente do Banco Central Americano - FED pediu desculpas?

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Atribui-se ao mercado imobiliário norte americano o estopim do desencadeamento da crise atual. Essa instabilidade economica se disseminou por outros setores do mercado, devido a grandes bancos e consumidores em geral terem investido nas hipotecas chamadas de "subprime". O problema é que muitos desses emprestimos eram realizados sem a consulta do histórico financeiro do cliente. Como existia muito crédito, os americanos foram as compras, só que com isso o preço dos imóveis teve um considerável aumento. O resultado é que os clientes, insatisfeitos com a elevação de preços, deixaram de pagar os bancos, acarretando em uma diminuição do crédito.
    O auxílio por parte do Estado em momentos de crise, deve-se para buscar a regularização econômica com medidas como: elevação ou diminuição da taxa de juros (dependendo da situação), manobras em flutuação da taxa de câmbio (flutuação suja), bem como no repasse de recursos públicos para a reestruturação de empresas prejudicadas com a crise, como medida de evitar desemprego, criar um clima de desestabilização econômica. O repasse de recursos financeiros foi uma das medidas adotadas pelo Governo norte-americano a fim de combater a crise atual.
    A interferência do Estado na economia tem sido uma prática recorrente iniciada no século XX. Desde então, governos de várias partes do mundo ao primeiro sinal de desestabilização financeira, "entram em campo" em busca de interferirem da melhor maneira possível, garantindo assim a boa saúde financeira da economia e dos membros da nação, dai o motivo do ex-presidente do FED ter pedido desculpas pela falta de atitudes em ajustar a economia, acreditando que ela se auto-ajustaria.

    Robson de Oliveira
    Estudante de Administração.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Concordo em parte com nosso amigo Robson de Oliveira, mas credito boa parte de críse justamente a atuação do Dr. Alan Greenspan, pois como presidente do FED, e em sendo este autônomo, ele simplesmente liberalizou a economia com juros muito baixos e permitindo que os inúmeors derivativos pudessem compor diversas situações dos subprime.
    Quando a economia começou a sinalizar alta de inflação ele aumento os juros (coisa habital nas economias atuais) mas que começarama a representar um peso para aqueles que ja estavam comprometidos com cartão de crédito, financiamento do(s) carro(s) novo(s), faculdade dos filhos e por ai adiante. O endividamento médio dos norte americanos chega a 120% do seus cráditos.
    Qualquer aumento porcentual para quem já vive apertado representa a necessidade de escolhas de prioridades sobre qual divida pagar primeiro e quais serão deixadas para a posteridade. Levou a pior o mercado imobiliário.
    O Brasil mesmo diante da experiencia americana está tomando o mesmo rumo nesse joguete eleitoreiro do programa Minha Casa,minha vida.É sabido que temos um déficit habitacional de 8 milhões de novas moradias, mas estão tentando resolver o problema no pisão e não enquanto políitca de longo prazo acompanhado, principalmente de saneamento básico.
    Queira Deus que sejamos capazes de perceber quando a coisa começar a degringolar de vez, mas ai vem o próximo governo e assume a dívida jogando a conta pra nós cidadãos comuns, nossos filhos e netos aquelas velhas práticas brasileiras.

    ResponderExcluir